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quinta-feira, 31 de março de 2011

O Teatro de Bonecos na Igreja - VI

A Alma do Boneco II
Ainda falando sobre manipulação é necessário saber que cada boneco é um boneco, logo cada boneco possui um timing próprio. Antes de se buscar um conjunto de regras ou receitas de bolo para confecção/manipulação do boneco, devemos ter em mente a motivação primeira para construir e manipular um determinado boneco, e essa motivação é o objetivo que se quer alcançar com ele, ou seja, antes mesmo de confeccionar o boneco temos que ter em mente o que queremos alcançar com ele. A princípio as regras servem somente como delimitadoras, camisas de força que nos impedem de dar asas a nossa potencialidade e a dele, boneco. O voo máximo que o teatro de bonecos pode alcançar é simplesmente o inimaginável. Prova disso, é a declaração de Cherubini: [Grupo Sobrevento/ http://www.sobrevento.com.br/index.htm] “Todas as regras existem para serem quebradas”, Completo, inclusive esta. Daí, termos subvertido tanto a escola europeia, com sua movimentação a bandeira inglesa, (um quadrado imaginário), tanto a japonesa com a rigidez do Bunraku e seu estudo minucioso do gestual, e misturado tudo em um novíssimo teatro de animação que agrega estas escolas a liberdade mamulengueira e nosso ritmo. Bom exemplo é a cia Trunks de teatro de bonecos [http://www.truks.com.br/].
Na falta de regras contundentes, existem certos princípios básicos que servem como parâmetros a uma boa manipulação de bonecos, formas e objetos, em diferentes técnicas. Parâmetros tais como foco, direção do olhar, eixo, ponto fixo, variação rítmica, dinâmica, precisão, entre outros. Pode-se assumir como parte da manipulação, ou se tirar proveito de todo gestual, do ritmo da cena, sons, ruídos e acidentes. Os manipuladores podem enriquecer, e muito, os recursos expressivos de teatro de animação se puderem desfrutar de sua própria existência, sem com isso, concorrer com o boneco, mas somando, interagindo não só com o boneco em si, como todo o enredo, contexto, cenário, etc. Nota-se que saí de teatro de bonecos para teatro de animação, que é um teatro de bonecos, que por vezes pode dispensar o próprio boneco. Mas, isto é para outro post.
Nós vemos na próxima semana.

quinta-feira, 24 de março de 2011

O Teatro de Bonecos na Igreja - V

A Alma do Boneco
Bem, meus três leitores, visto que vocês já devem ter suas próprias ideias de como desejam utilizar seus bonecos, vamos ao ponto que considero primordial para se alcançar o objetivo principal de um boneco evangélico, que é principalmente no evangelismo a transmissão da mensagem. Ou seja, que a mensagem chegue com o mínimo de ruídos ao público alvo. Quem é responsável pela transmissão da mensagem obviamente é o boneco, contudo o responsável de como essa mensagem chega ao público é o manipulador.
Existem diferentes técnicas de manipulação a serem aplicadas aos diversos tipos de bonecos. Particularmente, acredito que cada boneco pede uma determinada forma de manipulação, forma esta, que se dará de acordo com a familiaridade que o manipulador tem do boneco, do relacionamento de amizade e intimidade que existe entre ambos. Desta forma, que nos imporá a correta manipulação é o próprio boneco. Discordo daqueles que consideram que há certos movimentos básicos que devem ser respeitados. Todavia, concordo com aqueles que consideram que há certos movimentos básicos que devem ser respeitados. Sei que são posições antagônicas apresentadas no mesmo parágrafo pela mesma pessoa, mas de fácil compreensão, antagonismo que soluciono com uma palavra. Objetivo.
Digo que não só a técnica de manipulação deve ser usada de acordo com o objetivo a ser alcançado, e dentre estes objetivos pode estar o de extrair algo do boneco e/ou público, como a própria confecção deve partir dessa premissa. Objetivo.
Exemplificando objetivo, digo que não existe necessidade da adequação da voz ao personagem como regra básica, existindo sim, a necessidade da adequação da voz ao objetivo, um gigante não precisa necessariamente ter a voz poderosa, a antítese, também é aceitável, e com certeza o é engraçado. Em fazendo isso estaríamos quebrando a regra que diz que é necessário adequar a voz ao personagem, se optássemos claramente pela comédia colocando uma voz poderosa em um anão e uma voz fina em um gigante.  
Considerando que um personagem deve se expressar através de um registro de gestos essenciais, pode-se estudar para cada boneco princípios originais e o construir em consequência desse estudo, que obviamente se destina a alcançar um certo objetivo, deixando de limitar desta forma o número de movimentos possíveis, situando o boneco dramaticamente falando, dentro de  um universo próprio, que por sua vez, determinará sua fisionomia e estilo.
Desta forma, estaremos nos libertando de estar preso a este ou aquele gênero de manipulação, visto que cada personagem poderá impor para si um sistema particular e autônomo. Algo que em cena, poderia completar o espetáculo com a saudável miscelânea de gêneros, demonstrando em pratica que a metodologia de animação de certo boneco não é mais pobre nem mais rico de que qualquer outro tipo clássico. Mas, vamos continuar conversando sobre isso na próxima semana.

quinta-feira, 17 de março de 2011

O Teatro de Bonecos na Igreja - IV

Qual a Utilidade do Boneco?

E, então meus três leitores, para que serve o boneco? Costumo dizer que questionamentos produzem respostas, e este é sem dúvida um questionamento legitimo. Outras questões seriam; para que devemos usar o boneco e como devemos usar o boneco?
Disse uma criança: “Boneco serve para dizer o que os adultos não dizem.” Mas, além disso, o boneco também serve para dizer o que desejamos dizer, e mais, boneco serve para nos expressarmos para com o mundo.
Para que serve o boneco? Poderia traçar aqui uma lista enorme com páginas e páginas das mais diversas utilizações do boneco, dificilmente chegaria ao limiar de suas probabilidades. As respostas a essa pergunta passa pelo eu de cada pessoa, a formação profissional inclusive. Desta forma, um profissional da área médica, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, etc., enxergarão o boneco de forma diferente da de um profissional da educação.
Cada pessoa tem o direito de utilizar o boneco de acordo com a sua necessidade ou a necessidade do seu público, desta forma se preciso é necessário reinventar o boneco para que ele atenda as perspectivas de suas necessidades. Reinventar na sua forma e na sua utilização. Desprendê-lo de rótulos que acaso possam existir a forma a qual ele é prisioneiro. Reinventar na ânsia de desprender-se das limitações que acaso ele possa estar te restringindo. Reinventar o conceito da própria utilidade do boneco. Desfazer-se dos preconceitos a respeito do boneco, como coisa de menor valia, no meu caso, no âmbito evangelista-educacional.
Horacio Tignanelli, por exemplo, marionetista, astrônomo, professor da Faculdade de Astronomia de La Plata, dedica-se não só a seu trabalho de pesquisa e ensino universitário, como também à difusão da astronomia entre o público infanto-juvenil, tendo dedicado a isto pelo menos cinco de seus livros, e desenvolvido diversos espetáculos didáticos vencedores de vários prêmios.
Desta forma, posso considerar uma pergunta mais fácil de produzir resposta a que se segue: O que não devemos fazer com o quê o boneco faça, ou, para que não serve o boneco?
Independente da pergunta, certo é que as respostas passearão por questões morais, ideológicas, profissionais e religiosas daqueles que estão propondo-se a utilizar o boneco. Não esquecendo ainda aspectos políticos, econômico-financeiros e sociais que podem influenciar, ou até mesmo decidir os rumos a serem tomados. Certo é que na base dessa resposta, encontra-se o horizonte, o objetivo a ser alcançado.
Experimente fazer as perguntas aqui mencionadas a pessoas e profissionais que utilizem de alguma forma o boneco, e verão as suas múltiplas possibilidades desfilarem ante a seus olhos, de acordo com o universo indagado.
Exemplificando na igreja O Grupo  Luz do Mundo, desenvolveu um trabalho de cunho pedagógico-evangelístico, centrado na criança de comunidades carentes, valorizando a utilização do boneco de forma didática. O entretenimento não era a tônica e, sim parte da trama. Havendo a necessidade de que a mensagem chegasse com clareza a seu receptor. O que em suma diferencia o teatro de bonecos cristão do secular,  que é seu aspecto didático, moral, pedagógico e evangelístico.
Seria bom que cada um de vocês pudesse fazer as suas próprias perguntas. Somando-se esta: “O que eu posso extrair do teatro de bonecos?”, a outras que poderão surgir. Ficará surpreso, quem fizer essa experiência que todas as respostas estão corretas. – É, você pode fazer isso com teatro de bonecos. – As limitações ficam portanto com a sensibilidade e com o aviso dado por Paulo (Apóstolo), tudo posso, mas nem tudo me convém.

quinta-feira, 10 de março de 2011

O Teatro de Bonecos na Igreja - III

Uma Quase História do Teatro de Bonecos - II

Mestre Zé Lopes, mamulengueiro que é puxou a brasa pra sua sardinha e encontrou a origem do mamulengo na senzala. Mas, quando surgiu o teatro de bonecos no Brasil?
Dada a impossibilidade de se pontificar numa linha temporal o nascimento do teatro de bonecos, podemos encontrar citação de sua utilização no Rio de Janeiro, na obra do historiador Luiz Edmundo – O Rio de Janeiro no Tempo dos vice-reis. – Ainda assim, é mais fácil crer que os responsáveis pelo enraizamento do teatro de bonecos no cenário nacional, tenham sido os europeus através das invasões, de tal forma está arraigada a figura do brincador a cultura do nordeste. Ouso dizer que o mamulengo é a mais tradicional forma de expressão do teatro de bonecos.
Sem a intenção de chocar, mas, apenas para pontuar uma realidade, faz-se necessário declarar que o teatro de bonecos, não é primordialmente um teatro para crianças. Tendo crescido sob os refletores da sátira e da crítica às forças dominantes, fossem elas igrejas, reis ou ditadores, e isto graças as possibilidades de expressões únicas ao boneco. O teatro de bonecos só adquiriu uma visão mais voltada a criança após os dois grandes “baby boomers” pós 1a e 2a grande guerra. Mesmo porquê, a criança, como ser que precisa de proteção e de cuidados especiais, só veio existir muito depois do teatro de bonecos. Em Esparta a criança era tirada de seus pais com sete anos e aos doze anos já iniciava o seu treinamento militar.
“A criança, logo após o nascimento, era examinada pelos éforos. Estes, como supremos guardiães do Estado, tinham o poder de decidir o destino do recém-nascido. Caso possuísse algum defeito físico ou uma saúde debilitada, a criança era condenada à morte e o sacrifício se realizava atirando-a do alto de um penhasco. A criança fisicamente apta permanecia junto à família até os sete anos. (...). Aos 12 anos, ia viver em acampamentos, dedicando-se ao treinamento físico e à formação militar”.1 
No mundo evangélico, os bonecos têm sido usados, missionários que são, como instrumentos de aproximação das diversas sociedades e povos por onde se encontram. Eis que a linguagem do boneco transcende a verbalização. Os missionários forma  a base do teatro de bonecos cristão.
Considerando que o boneco evangélico, por ter o objetivo principal de evangelizar, manteve-se preso por muito tempo ao seu meio, o que dificultou o seu desenvolvimento. Quadro que muda ligeiramente no final dos anos 80, quando acontece a grande explosão do redescobrimento do teatro de bonecos no Rio de Janeiro. Movimento que tem como representante evangélico o grupo Luz do Mundo de Teatro e Bonecos, formado por professores, artistas plásticos e pessoas com capacitação em teatro, em busca de especialização em teatro de bonecos, que, em alcançando, passa a difundí-lo através de cursos ministrados a igrejas, não sem antes serem admitidos como de fato bonequeiros, inclusive ocupando espaços culturais oficiais da cidade, como o espaço do teatro de bonecos no Flamengo, e a participar junto com diversos outros artistas do movimento contra a miséria e a fome, promovido pelo sociólogo Betinho, na praça Saens Peña.
A retomada ao boneco nos finais dos 80, e início dos 90, do século passado, além da retomada folclórica, trouxe novas formas do teatro. Um teatro capaz por si só de se manter em cena como o fez Mauro César e Cia no Teatro Glauber Rocha, com seus bonecos de espuma. Um teatro que justificasse propaganda televisiva como o Norte Shopping o fez para Javarini e seus bonecos de pano. Um teatro vencedor de prêmios como Mozart Moments; ganhador do prêmio Coca-Cola de Teatro Infantil, de 1991, do grupo Sobrevento com sua heterogeneidade Atores/Bonecos e pesquisa histórica. Um teatro que justificasse estúdios fonográficos como A Formiga Olga e Outros Bichos, do grupo Luz do Mundo de Teatro e Bonecos. Um teatro exclusivamente didático, como os de Maria das Dores Dalpiaz e seus bonecos grávidos e projeto escola.
Apesar de todas as novas (velhas) técnicas de manipulação, e confecção (novas) que tiveram como principais agentes difusores o grupo Sobrevento (Teatro de Animação); Mauro César (Confecção); Javarini (Confecção/Manipulação); no início dos anos 90, o teatro de bonecos apesar dos novos elementos plásticos, continua com a mesma velha magia. O que me faz lembrar Fernão Capelo Gaivota (Richard Bach): “Esta forma de voar sempre esteve aí, para quem estivesse disposto a descobrir”. E me faz concordar com Betsy Brown: “O boneco é tão antigo quanto o homem e tão moderno quanto a tecnologia da informação. Ele (representou) antes do homem fazê-lo; ele está conosco para servir, divertir, inspirar, ensinar, para nos ajudar a evitar a demência (...).”
Dada a condição singular apresentada por Betsy e Bach, acima, pergunto eu: Que tal aprender uma ou duas coisas a respeito do teatro de bonecos e voltar aqui para compartilhar conosco?
No próximo artigo vamos ver para que serve o boneco e como utilizá-lo. Até mais.

quinta-feira, 3 de março de 2011

O Teatro de Bonecos na Igreja - II

Uma Quase História do Teatro de Bonecos

Há muita inconsistência sobre a(s) origem(ns) do teatro de bonecos. O que se percebe entre entusiastas é a intervenção de sua formação cultural e religiosa, dentre outras, influenciando em sua aceitação de uma origem para o teatro de bonecos.
Assim sendo, podemos encontrar a origem do teatro de bonecos, tanto na pré-história (minoria); como na China, Egito e Grécia Antiga (maioria); como na primeira citação bíblica a ídolos (ao menos eu); “Imagens, totens, esculturas, marionetes são da mesma família” (Álvaro Apocalypse); como na idade média, auxiliando a igreja a ilustrar a Bíblia, ou ainda na França de Luiz XIV.
Nota-se porém, que se agregarmos a sombra como objeto a ser animado, portanto boneco, teremos sua origem a tempos imemoriais, bastando que o primeiro homem tenha corrido atrás de sua própria sombra, e conseguindo extrair prazer deste ato. E aí! só Adão é quem sabe.
Mestre Zé Lopes, mamulengueiro, conta que talvez ele tenha inventado um pouco do mamulengo, para depois contar sua versão do nascimento desse brinquedo esculpido da imburana ou do tambô.
“Diz uma vez, que uns escravos, lá na senzala, para escapar da rotina do dia a dia, pegaram uns pedaços de madeira, quem sabe mulungu, e fizeram um presépio, um mamulengo de luva. E lá na senzala, depois das oito, nove horas da noite, eles começavam a brincadeira. Batendo um caixote, uma lata, cantando, botava o mamulengo. Só que o preto na senzala era o rei, o patrão, a patroa, o feitor, os capatazes eram que apanhavam, os caras que eram brancos iam para a lenha.
Mas um dia, a filha do senhor da fazenda saiu por ali brincando e viu aquela coisa. A moça volta para trás e conta para o pai, que volta e olha a brincadeira, mas não manda parar nem bate nos escravos. Então ele vai e prepara uma festa, e diz que nessa festa vai haver uma grande surpresa. Mata um boi, porco, faz muita carne, carne de sol, uma festa total. Faz mungunzá pra dar pros negros, porque o negro comia mais milho, essas coisas. Os fazendeiros da região estavam todos na festa esperando a tal surpresa, de repente poderia ser alguma coisa da capital da província, alguma coisa boa.
Aí, quando deu oito, nove horas da noite o senhor falou – É, tá na hora. Escravo fulano, fulano e fulano! Os negros gritaram: Pronto! Festa de branco é negro ir pro tronco apanhar! Não me bata senhor, não fiz nada. Então o senhor disse: Não, hoje você vai ser o rei. O galã vai ser você. Vá buscar aquela brincadeira que você tem na senzala para apresentar aqui. Foi aí que nasceu o mamulengo e outras e outras histórias.”
Aqui temos então uma origem para o mamulengo, mas como os bonecos chegaram a igreja essa é outra história. Que veremos no próximo artigo.