Mestre Zé
Lopes, mamulengueiro, conta que talvez ele tenha inventado um pouco do
mamulengo, para depois contar sua versão do nascimento desse brinquedo
esculpido da imburana ou do tambô.
“Diz uma
vez, que uns escravos, lá na senzala, para escapar da rotina do dia a dia,
pegaram uns pedaços de madeira, quem sabe mulungu, e fizeram um presépio, um
mamulengo de luva. E lá na senzala, depois das oito, nove horas da noite, eles
começavam a brincadeira. Batendo um caixote, uma lata, cantando, botava o
mamulengo. Só que o preto na senzala era o rei, o patrão, a patroa, o feitor,
os capatazes eram que apanhavam, os caras que eram brancos iam para a lenha.
Mas um
dia, a filha do senhor da fazenda saiu por ali brincando e viu aquela coisa. A
moça volta para trás e conta para o pai, que volta e olha a brincadeira, mas não
manda parar nem bate nos escravos. Então ele vai e prepara uma festa, e diz que
nessa festa vai haver uma grande surpresa. Mata um boi, porco, faz muita carne,
carne de sol, uma festa total. Faz mungunzá pra dar pros negros, porque o negro
comia mais milho, essas coisas. Os fazendeiros da região estavam todos na festa
esperando a tal surpresa, de repente poderia ser alguma coisa da capital da
província, alguma coisa boa.
Aí,
quando deu oito, nove horas da noite o senhor falou – É, tá na hora. Escravo
fulano, fulano e fulano! Os negros gritaram: Pronto! Festa de branco é negro ir
pro tronco apanhar! Não me bata senhor, não fiz nada. Então o senhor disse:
Não, hoje você vai ser o rei. O galã vai ser você. Vá buscar aquela brincadeira
que você tem na senzala para apresentar aqui. Foi aí que nasceu o mamulengo e
outras e outras histórias.”
Aqui
temos então uma origem para o mamulengo, mas como os bonecos chegaram a igreja
essa é outra história. Que veremos no próximo artigo.
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